Embora externamente suas ações sejam as mesmas - seduzem e se relacionam com muitos homens - o valor moral dos atos da prostituta e da promíscua são muito diferentes, de forma que equiparar uma à outra é injusto. Isso não quer dizer que uma delas aja bem; nenhuma das duas vive aquilo que a mulher é capaz, e ambas se distanciam da felicidade que procuram, mas o grau desse distanciamento é diverso.
A promíscua é a mulher que procura o sexo casual e frequente porque ela o quer. Claro, ela está equivocada sobre aquilo que lhe trará a real felicidade, mas mesmo assim essa busca equivocada se dá por meio de uma afirmação de seu ser e do bem do sexo, que de fato é um bem. Ela afirma a bondade de seu corpo e reconhece o valor do propósito unitivo que a move, embora não o use lá muito bem.
Já a prostituta procura o sexo casual e frequente embora ela não o queira. (Mesmo as prostitutas que gostem da profissão, que imagino não serem a maioria, terão que, em muitas circunstâncias, se relacionar com homens que em nada lhes atraem, e se submeter a degradações que, não fosse pelo dinheiro, não se submeteriam.) Ao contrário da promíscua, ela se distancia de seu próprio corpo, tratando-o como objeto, como puro meio, mutilando em parte sua identidade. Ela trai a si mesma, à própria dignidade, num nível que a promíscua não trai. Ela nega seu ser, enquanto a outra o afirma.
Isso não quer dizer que a prostituta seja mais imoral. Afinal, toda uma série de circunstâncias difíceis em geral mitigam em muito a decisão de vender o próprio corpo. Mas implica que a prostituta faz mais mal para si do que a promíscua. Esta não é apenas uma prostituta que "dá de graça"; seus atos, embora desordenados, obedecem à lógica interna do corpo e da união humanas, enquanto que o da outra violam-na no ponto mais profundo: o da auto-doação voluntária e sincera.