domingo, 30 de outubro de 2011

Igreja e Política

No dia de hoje, domingo 30 de outubro, um folheto da Campanha Missionária 2011, distribuído nas missas (de toda a diocese? Cidade? País?), tem como ponto de oração a ser lido em voz alta pelo padre: "4. A exploração predatória e incontrolada da região amazônica pelo agronegócio, pelas firmas madeireiras e mineradoras, e pela política energética do Governo Central representa um saque selvagem e intolerável." Ao que os fiéis responderam: "Senhor, que queres que eu faça?"

Em primeiro lugar, noto que a linguagem condenatória usada nesse item é muito mais forte do que qualquer linguagem utilizada em qualquer folheto de Missa ou agregados (folhetos como esse, distribuídos paralelamente ao da Missa), mesmo ao falar de pecados graves como o aborto (a linguagem é em geral algo como "Que nossa sociedade saiba respeitar a vida").

Em segundo lugar, noto que essa é a forma preferida de muitos setores do clero brasileiro de fazer política: esgueirar posições definidas em orações para que ao povo caiba apenas dizer Amém. Não me parece uma maneira particularmente honesta de se fazê-lo, dado que nas orações rezadas na Missa devam estar princípios básicos e universais da Fé e suas consequências para a vida cristã, e não uma opinião sobre a usina de Belo Monte. Não sou fã do governo Dilma, e nem tenho opinião definitiva sobre o caso em si (tendo a ser a favor da construção), mas uma coisa é absolutamente certa: não há, na proposta de se construir uma hidrelétrica numa selva, nada que faça dela intrinsecamente má e indefensável para um católico. E por isso é tão desonesto colocar a oposição a ela (como ao agronegócio, às madeireiras, às mineradora. Notem que a oração não se restringe às ilegais) como um ponto a ser pedido em oração por todos os fiéis. O que aconteceu com a responsabilidade de cada um de formar sua consciência e se posicionar de acordo? Por isso é que as manifestações políticas no culto público da Igreja e nas manifestações da hierarquia deve ser sempre abrangente, até genérica, buscando condenar o vício e exaltar a virtude sem tomar partido. A exceção a isso são aqueles casos em que alguma política violafrontalmente a dignidade humana ou a Fé, como legalizar o aborto, liberar a pedofilia, instituir a escravidão, proibir o sacerdócio, etc. Nos outros, por mais claros que possam parecer a algum bispo (ou, o que é mais provável, ao grupo de leigos e/ou religiosos que deve cuidar da redação desses folhetos), o mínimo de prudência demanda que sejam mantidos fora do culto público e das manifestações oficiais do clero.

Essa virtude da formação da consciência e da autonomia individual é rara no Catolicismo. Quem dera fosse algo que faltasse apenas aos remanescentes da TL, que são cada vez menos e mais fracos. Ela se estende, no entanto, a todo o panorama político de dentro da Igreja.

Primeiro há os já citados TL, que com base em alguns pronunciamentos do papa Paulo VI e ações de ordens religiosas nas últimas décadas defende que, para o cristão, a defesa do socialismo é obrigatória. No lado contrário, há os tradicionalistas, cujo papa of choice é Pio IX e que elevam suas condenações à "sociedade moderna", à "democracia liberal" e ao Estado laico ao patamar de dogmas. Fora da monarquia confessional não há salvação. Por fim, entre a galera ortodoxa que compõe o lado mais solar e positivo do Catolicismo, há a defesa da "doutrina social da Igreja", tratada como se fosse uma coisa única, com propostas bem claras e inequívocas sobre o bem comum, e que redundam em defender uma social-democracia cristã estruturada mais ou menos como os Estados atuais só que com menos liberdades sexuais e reprodutivas e com menos violações legais da vida humana.

Há ainda um quarto grupo, o menor e facilmente o mais ridículo de todos, formado por católicos liberais e libertários. Eles são mais ridículos porque se tem algo difícil de se defender com base no magistério é o liberalismo. Mas, para padrões atuais, Leão XIII (que foi quem inaugurou a chamada "doutrina social da Igreja"), que reinou em fins do século XIX, é bastante liberal; e há ainda a pouco conhecida contribuição da Escola de Salamanca (séculos XVI a XVIII), formada de importantes pensadores católicos, que tinham posições surpreendentemente liberais e avançadas economicamente. Dado que os frades da Escola de Salamanca não constituem magistério oficial e são um capítulo de exceção na história da Igreja (assim como é toda a tradição tomista da qual eles descendem), a defesa das opiniões deles como a verdadeira tradição católica é, no mínimo, dúbia.

Eu sou um católico liberal, isto é, defendo o livre mercado como melhor forma de se organizar a sociedade, indo a limites considerados bem extremos pela opinião comum (privatização de ruas, de rios; fim das leis trabalhistas; Estado restrito à defesa dos direitos individuais; etc.). Mas não o faço por acreditar que essa seja a posição do magistério católico. Certamente não é e nunca foi. Também sei, contudo, que não existe UMA posição do magistério. Cada papa que se manifestou defendeu algo diferente, ainda que os princípios básicos sejam os mesmos.

Leão XIII era mais ou menos um liberal clássico, embora bem menos liberal que os liberais de sua época. Pio XI defendia o Estado corporativista típico do fascismo (condenando, contudo, o nacionalismo, o racismo e o militarismo). Paulo VI era mais socialista, condenando a ambição e exortando as sociedades a pagarem mais impostos inclusive para aliviar a pobreza dos países africanos. João Paulo II já tinha uma postura bem mais "capitalista", reconhecendo a importância da propriedade privada e o papel essencial do empreendedor, ao mesmo tempo em que defendia generosas proteções legais aos trabalhadores. Bento XVI já tende mais para o Estado mais forte, chegando a defender uma autoridade política, e agora financeira, mundial.

Não costumo gostar muito das intervenções políticas dos papas e dos bispos. Entendo que eles se vejam no dever de guiar os fiéis; apenas acho que costuma faltar conhecimento de economia em muitas dessas manifestações. E nem tenho grandes problemas com a hierarquia pensar diferentemente de mim; meu problema é que muita gente usa essas manifestações para defender posições com base na autoridade eclesiástica, sem ter que defendê-las racionalmente. Assim, mesmo um bispo ou um papa liberal, coisa que me animaria muito, poderia ter um efeito negativo se fosse o de reforçar nos fiéis (nos melhores fiéis, isto é, nos que se importam com a Igreja institucional e que tentam iluminar suas opiniões pela Fé) a ideia de que a discussão política deve se resolver com apelos à autoridade.

Há duas posições que me parecem erradas. Uma é essa: fazer da política e a economia questões de fé, de adesão a pronunciamentos de autoridades. A outra é tornar essas questões totalmente independentes da Fé. Em alguma medida elas certamente são, tanto que há ateus em todos os pontos do espectro político. Mas o cristão que se posicione politicamente tem que iluminar sua posição com a luz da Fé, e essa posição deve se harmonizar com aquilo que ele acredita sobre o homem e seu papel neste mundo. Mas é possível fazer isso honestamente e chegar a diferentes respostas. E por isso mesmo, e porque vivemos num mundo no qual muitos não partilham de nossa Fé, a discussão deve se dar no plano da razão, e não no da autoridade. Pior ainda se essa autoridade introduzir sorrateiramente suas posições altamente polêmicas num momento em que os fiéis se reúnem para o culto público a Deus.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

FFLCH OCUPADA! - parte 398

Que coisa! Fiquei sabendo só hoje que houve baderna entre estudantes da FFLCH e PMs na USP ontem às 19:00. Pois eu estava na biblioteca da mesma FFLCH das 15:00 às 20:00, saí e não vi nada. Se tivesse parado o carro na rua de baixo, teria pego parte do rebuliço, trocado umas ideias com a turma, enfim, teria tido mais uma dose daquela maravilhosa experiência de "viver o campus", algo que fiz muito pouco. Mas não; como bom aluno da Filô, fui direto da sala para o carro pela rota mais rápida possível.

A Filosofia é notoriamente alienada do resto da FFLCH (que se compõe também das faculdades de Letras, Ciências Sociais, Geografia e História). Na verdade, esse meu desencontro de ontem ilustra perfeitamente a diferença de atitude das faculdades: enquanto uns criam baderna com a PM, outros estudam na biblioteca. (O fato do meu estudo ter rendido muito pouco torna a imagem ainda mais fiel.)

O que os revoltosos querem? É sabido que assassinatos e estupros ocorrem no campus; roubo de carro, então, nem se fala. É claro que precisamos da polícia. Fico na dúvida se o que move esses estudantes é algo mais filosófico (e furado) contra a própria ideia de polícia, ou o medo mais concreto de que, estando a polícia no campus, ela ocasionalmente prenderá um drogado.

Encontrar maconha em estudante da FFLCH não é exatamente procurar agulha em palheiro. O uso de drogas lá é generalizado, como qualquer um com narinas funcionais pode testemunhar. Quem procura, acha. Eu mesmo sou contra a proibição das drogas. Reconheço os perigos e os custos de se descriminalizá-las e a possível imprudência de fazê-lo de uma vez só, mas mesmo assim não tenho dúvidas de que o objetivo legal último tem que ser esse. (Já usuário não sou nem nunca serei! Se me virem de olhos vermelhos, saibam que é alergia.) Contudo, dado que vivemos sob a proibição, e essa proibição não é algo completamente arbitrário - os males da droga são reais; os do tráfico também - e nem viola a dignidade humana básica, não há justificativa para partir para a violência (incontestavelmente iniciada pelos estudantes) contra policiais que fazem seu trabalho. Fico igualmente indignado pela lei seca; nem por isso é justo atacar o policial que quiser aplicar o bafômetro. Enfim, esses "estudantes" (as aspas são porque, entre eles, há também militantes políticos e pelegos de "movimentos sociais") exigem coisas como a retirada coletiva de todos os processos criminais contra estudantes e funcionários da USP (sem averiguar se procedem ou não!); tendo isso em mente, como classificá-los?

A maioria dos estudantes da USP é a favor da PM no campus. Quem é contra são basicamente setores minoritários da FFLCH, da FAU e da ECA, os usual suspects a travar uma eterna guerrilha imaginária contra os poderes das classes opressoras, isto é, o mundo real do trabalho e da ordem, que é quem os sustenta em seu devaneio truculento. Por que é só na área de Humanas que floresce essa bizarrice da fauna estudantil, que exalta os maiores crimes e os ideais mais monstruosos como se fossem virtudes, luta contra inimigos imaginários, não tem absolutamente nenhum poder fora do mundinho acadêmico que parasita e ainda se arroga como autoridade moral universal e porta-voz da universidade quando na verdade a imensa maioria dos colegas os repudia?

O resto da sociedade, o mundo fora da USP, os trabalhadores que povoam tantos dos manifestos e justificam tantos atos dos movimentos estudantis, também não morre de amores por seus supostos salvadores. Esse desprezo tem sido cada vez mais vocal. Embaixo da vídeo-reportagem no site da UOL, há um espaço para os leitores deixarem sua opinião. A maioria não é estudante da USP. Vejamos o que um deles, representativo dos demais, tem a dizer:

TADINHOS DOS MACONHEIROS DA USP. DEIXEM AS CRIANÇAS FUMAR SEUS BASEADOS EM PAZ,AFINAL NÃO É PRA ISSO QUE PAGAMOS IMPOSTOS TÃO ALTOS?
OS PMs MAUS BATERAM NOS MENINOS PORQUE?
CAMBADA DE FDP!!! BORRACHA NESSES VAGABUNDOS QUE SE INTITULAM ESTUDANTES DA USP!!!

O que permite que um grupinho fale tão alto, e o mundo ouça, sendo ninguém simpatiza com ele? Simples: como eles não estudam nem trabalham, têm todo o tempo do mundo para fazer panelaço constante, enquanto o resto do mundo, embora até se importe com a política e gostasse de chutar essa máfia para fora, simplesmente não tem como dedicar o tempo integral à causa que os revolucionários ociosos dedicam. Uma instituição saudável deveria ter mecanismos para não permitir que isso ocorresse: tratar atos de agressão e invasão de maneira exemplar, expulsando imediatamente todos os culpados e usando, se necessário, força policial para retirá-los (e eventualmente prender os criminosos infiltrados no meio estudantil); falta só a coragem política de fazê-lo.

Os colegas os repudiam. O resto da sociedade não tolera nem ouvir falar deles. Então por que deixamos essa banda podre das faculdades de Humanas continuar a ditar o debate de ideias e intimidar o resto da sociedade a ouvi-la, seja por greves ou ocupações? Até quando o Sancho Pança, a parte da sociedade que estuda e trabalha, se sentirá na obrigação de escutar e apaziguar esse D. Quixote maligno que, não se contentando em ser sustentado por seu trabalho ainda quer matá-lo?

Não proponho nenhum tipo de ação violenta, que se vier, tem que vir do canal adequado: a polícia. O que cada um pode fazer individualmente é cortar pela raiz a ideologia que os protege: a insistência em vê-los como "idealistas", defensores ingênuos de utopias que usam de meios desesperados. Eles não são mais uma voz no debate público que merece ser ouvida e ponderada: é um discurso de criminosos que repete as maiores asneiras e as maiores monstruosidades já pensadas. Seus "valores" estão em total consonância com o peleguismo que praticam: o ódio contra tudo o que mantém a sociedade funcionando, contra qualquer instituição que nos afaste da selva, e contra todos os que produzem o bastante para permitir que os próprios manifestantes dediquem seus dias à maconha. O que os move não é um belo sonho, mas uma mistura de medo ódio para com um universo racional que não se dobra a caprichos juvenis. Não há ideal em suas palavras; apenas a lama.

domingo, 23 de outubro de 2011

Correções Políticas

Houve um tempo em que ser de esquerda era ser rebelde. Isso porque o negócio da esquerda era revolucionar todas as estruturas, morais, econômicas, sociais, e portanto que se explodam os sentimentos alheios, pois o que eles, revolucionários, fariam, seria mesmo sujo e feio para os padrões corrompidos da burguesia. Nessa época mais inocente, Darcy Ribeiro podia se gabar de ter espancado e estuprado uma jovem; Polanski dormia com menores e ninguém via problema nenhum. Não que toda a esquerda fosse de estupradores; mas seu espírito era transgressor, e por isso mesmo não ligavam muito pros sentimentos alheios, mesmo porque eles representavam códigos de valores condenáveis.

Só que em sua defesa dos excluídos e sua crescente inclusão de mais grupos (as mulheres, os negros, os estrangeiros, os deficientes, os homossexuais e, daqui a pouco, os frangos da Sadia), e a necessidade de sempre inventar novos crimes cometidos contra cada um deles (por exemplo: uma piada de mulher ao volante), a esquerda se auto-impôs o dever de não ofender, pois ofender é oprimir. Assim nasce o politicamente correto: formas de ação e expressão pré-estabelecidas desenhadas para não ofender e não excluir ninguém. E quanto mais se protege, mais sensíveis ficam os ouvidos. Veja o caso dos homossexuais. Antes era bichas (que podia ser dito sem ser ofensa, como nas músicas do Caetano Veloso). Depois, gays ou homossexuais. Depois, comunidade GLS. Depois, GLBT. Em seguida LGBT (é machismo botar os G antes das L). E agora culminamos na expansão LGBTTTs para dar conta de todas as variantes do T (e o "s" um aceno aos simpatizantes esquecidos do velho GLS; em minúscula porque ainda não deram o passo final). Para não excluir e não ofender ninguém, tem que ser assim. Um mundo mais róseo é possível!

A esquerda se sanitizou, se tornou a coisa menos subversiva imaginável; menos subversiva que bingo da terceira idade. Longe estão os sonhos de armas e sangue e o estupro das burguesinhas; agora é a vez dos livros pré-escolares e das longas conferências sobre raça e gênero. Assim, quando em maio o colunista Marcelo Coelho apontava todo sagaz a estratégia da direita em se vestir com a roupagem subversiva de "politicamente incorreto", ele não percebeu o óbvio: não foi nenhum direitista, grupo que nunca primou pelo humor, que teve a ideia. O manto romântico da subversividade e da transgressão foi entregue de mãos beijadas - não, foi empurrado à força - pela própria esquerda, que impôs às mentes, em prol de um mundo mais limpo, um sistema de pensamento com a mesma abertura para o humor do islamismo salafi. É impossível não ser subversivo.

Marcelo Coelho se esconde atrás da acusação de fascismo (que, ao contrário do que ele diz, não é nada politicamente incorreta; pelo contrário, é das acusações mais aceitas e mais usadas pela esquerda para sujar seus adversários; politicamente corretíssima). Mas não é preciso ser fascista para sentir os ridículos da linguagem inclusiva como uma amarra, e portanto explodir para o lado contrário. E mais: o humor feito com a diferença, se mantido dentro de certos padrões de respeitabilidade (mas ainda guardando parte de sua carga ofensiva), é essencial para a convivência. As relações de raça no Brasil eram mais harmônicas quando todo mundo ria do Mussum e seu amor pela cachaça do que hoje quando, pra se referir ao negão do outro lado da sala, se diz com certo embaraço: "Aquele, hã... de óculos e camisa vermelha".

Ninguém admite ser "politicamente correto"; todo mundo, Marcelo Coelho inclusive, foge desse rótulo. Mas abraçam aquilo que ele rotula, que é falar apenas de maneira a não ofender e não excluir ninguém, matando no processo toda naturalidade e todo humor. Toda vez que você diz "pessoas com necessidades especiais" ao invés de "deficientes", que você se choca com a insensibilidade da expressão "um cego guiando outro cego", você está sendo politicamente correto. Sua fala não mais busca representar a realidade tal como você a percebe, comunicando diretamente seu pensamento, e sim preservar as sensibilidades cada vez mais sensíveis de um número cada vez maior de grupos oprimidos e excluídos.

São coisas muito diferentes usar a linguagem para ofender (que é o que parte do "politicamente incorreto" hoje em dia faz; mas não todos, e não os mais importantes, como Luiz Felipe Pondé que é claramente um dos alvos de Marcelo Coelho no texto - aquele "viram como sou trágico?" não está lá à toa) e usar a linguagem normalmente, com seu sal e sua pimenta, sem se preocupar se alguma vaidade ultra-sensível se sentirá ofendida ou excluída. O primeiro caso pode de fato configurar uma atitude imoral, mas pode ser também uma ofensa dentro dos padrões do humor social, que ri dos vícios associados a certos grupos e não os grupos em si. O segundo é a fala humana natural e saudável, a qual o politicamente correto, que só podia ser criação de acadêmicos, visa re-moldar.

As opções são apenas duas: ou os crimes de linguagem e os sentimentos que eles ferem são algo que deve nos preocupar, e daí o politicamente correto faz todo o sentido; ou a preocupação em não ofender os outros em nossa linguagem normal deve ser, como era antes, algo menor; e daí sim podemos rir de quem tenta fazer da linguagem ferramenta da salvação, ou melhor, da inclusão universal. Em suma: se para você o fato da língua portuguesa privilegiar o masculino for um problema, não venha depois dizer que o politicamente correto é invenção engessante e ridícula de norte-americanos.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Rafinha Bastos no Altar da Piada

Há uma velha piada americana que era contada apenas entre os humoristas profissionais, chamada The Aristocrats. Uma família chega num estúdio caça-talentos para fazer um teste. O avaliador pede que comecem, e o que a família faz é uma seqüência das práticas mais detestáveis e obscenas, todas descritas explicitamente por quem conta a piada. Ao fim do show, estupefato, o avaliador pergunta qual é o nome do grupo, ao que eles respondem: “The Aristocrats”. A piada em si é sem graça; e sem dúvida o que nos anos 50 (ou seja lá quando a piada surgiu) era considerado off-limits até para platéias adultas, sendo portanto um vínculo meio secreto dos profissionais do humor, hoje é assunto de aula de sexo no pré-primário. Mas a graça dela vem do fato de se fazer piada com o proibido; o violar de todas as barreiras do pudor, e mais, do respeito e da dignidade humana.

Uma versão moderna da The Aristocrats (há um filme de uns anos atrás sobre ela, com vários humoristas atuais, mas eles em geral não arriscam muito. Alguns, por exemplo, contam versões particularmente obscenas da piada ao lado do filhinho bebê, o que tem um quê de transgressão, de violar a inocência. Claro, a transgressão real seria contar a piada ao lado de um filho pequeno mas já capaz de entender as palavras) mudaria um pouco seu foco: manteria o sexo no que ele tem de degradante unindo-o ao machismo, racismo, preconceito contra deficientes e outras coisas do tipo. Nada é sagrado no altar do humor. E nas formas mais ácidas, a graça está no próprio fato da ofensa gratuita.

No Brasil, quem tem levado o humor mais fundo em toda sua ofensividade é Rafinha Bastos, que era o assunto da vez antes da morte do Steve Jobs. Engana-se quem pensa que ele é didireita. Certamente não é de esquerda, mas ao mesmo tempo não tem lá muita veneração pelo Cristianismo que é associado ao conservadorismo. Também não deve ser (embora aqui haja espaço para dúvida) um grande defensor da causa liberal, da propriedade privada e do livre mercado. Ele é, na melhor das hipóteses, um apólogo do homem em seu “estado de natureza”, que quer mulher, churrasco e cerveja e está pouco se lixando pra causas sociais, minorias vitimizadas e os sentimentos dos outros.

É desonesta a crítica da nossa “boa gente” ao humor do Rafinha Bastos. Dizem que seu principal problema é não ser engraçado. Nada disso; estão fugindo da raia. O principal problema é, obviamente, ele ser ofensivo e brincar com temas e valores que são, para nossa intelectualidade, sagrados. Me abstenho de julgar a qualidade de seu humor enquanto humor: a piada das mulheres feias que deviam agradecer o estupro, ouvida descolada do contexto, é certamente sem graça; mas ler num site (ou mesmo ver no youtube) é muito diferente de estar presente num stand-up, que vai passo a passo te levando a gargalhadas por motivos absurdos que só fazem sentido dentro daquela experiência. O comentário sobre a Wanessa Camargo é engraçado precisamente por ser tão inapropriado, de um mau gosto tão abismal, que choca que uma mente pense e manifeste casualmente esse tipo de comentário em rede nacional. Enfim, bom ou ruim, sem dúvida é humor.

Voltando ao ponto: é óbvio que a rejeição a Rafinha Bastos não é pela sua falta de graça, mas porque ele faz troça com objetos sagrados. Ele entrou no modo metralhadora giratória. Insulta e ofende, com todo o mau gosto próprio do humor, quem quer que seja, e está se isolando cada vez mais. E isso mostra como por trás do humor, mesmo do mais “liberado”, quase sempre há interesses e valores. Quando ele se desprende verdadeiramente das amarras ideológicas que o guiavam, todo mundo quer é distância. Mesmo que não se goste do que Rafinha Bastos faz, há que se reconhecer o valor que ele encarna; ou melhor, o anti-valor: um humor tão tóxico e corrosivo que, por sua própria natureza, nada pode controlá-lo ou silenciá-lo. Para quem não vê com tão bons olhos a cultura oficial contemporânea, o espetáculo é, ainda por cima, uma lufada de ar fresco.

O que é o humor? É o mostrar algo como digno de riso, isto é, ridículo. E isso é a força mais destrutiva a tudo que diz respeito ao homem. Se rimos de algo, esse algo não é pra ser levado a sério. No campo das idéias e dos valores, significa desconsiderá-los, colocar-se qualitativamente acima deles e relegar-lhes ao desprezo. Isso é considerado imoral de vários lados, e obviamente o é, quando o valor do qual se puxa o tapete é bom e digno de ser defendido. Mas dizer que é imoral é diferente de dizer que não é humor, ou mesmo bom humor (isto é, engraçado).

Imagine quem dissesse: “O humor não é ateu. O humor, quando é bom, é católico.” Ou vice-versa. Tanto as pretensões de valor e de verdade do ateísmo quanto as da religião (e não nos esqueçamos das pretensões de honestidade e sensatez do agnosticismo) são derrubadas pelo humor. O humor é um ácido que corrói qualquer objeto. Essa é sua lógica. E o que você considera engraçado revela, em parte, o que você considera, em algum nível de seu ser (mais emocional do que racional) verdadeiro e / ou bom. Tudo pode ser encarado de forma corrosiva, pois tudo o que é humano tem, em alguma medida, pés de barro. Reclama-se do humor ofensivo? Mas o humor é engraçado porque ofende, isto é, por que torna algo risível (ok, nem todo; mas com certeza os tipos mais engraçados são assim). E ninguém gosta de ser alvo de risada, que significa dizer que se é irrelevante, que não merece ser levado a sério. Uma grã-fina escorregando numa casca de banana é engraçado porque este evento desmistifica a imagem dela e mostra o quão patético e clueless é o ser por detrás da imagem de superioridade. Existe humor com religião, com sexo, com raça, com nacionalidade, com política de esquerda e direita.

O humor pode ser contido, pode se limitar, pode servir apenas como um wake-up call do tipo “não se leve tão a sério”, e daí é saudável rir de si mesmo ou do próprio grupo. Mas ele não pára por aí; vai mais longe. Enquanto sobrar alguma algum fio de dignidade, há objeto para o humor destruir; e ele é capaz de destruí-lo. Podemos dizer que o humor moderado tem como objeto a falsa aparência de virtude, de dignidade, de bondade. Mas o humor puro chega a profanar a própria virtude, a própria dignidade, a própria bondade, ao fazer delas coisas ridículas. Por isso a escritora americana Ayn Rand considerava o Dom Quixote um dos três romances mais imorais já escritos: porque, segundo ela, ele não ri das falsas pretensões; ele desmerece os valores em si.

Nos EUA o humor corrosivo tem muita corrência, mas não conheço um caso de alguém que o leve até suas últimas conseqüências. Talvez seja impossível. Vejamos South Park e Family Guy. South Park é mais imediatamente corrosivo e ácido; mas por isso mesmo é presa fácil das ideologias contrárias ao status quo. E então ele acaba defendendo a “contra-cultura” convencional de ateísmo, libertinagem, esquerdismo político. Ele tem uma agenda muito clara. Family Guy, que é mais nonsense, no final das contas também tem, e se mostra cada vez mais a serviço dos valores da cultura liberal e secularista americana. Lá é mais difícil o humor puro porque a cultura é dividida: diferentemente do resto do Ocidente, lá existe uma guerra cultural, que mexe fundo com as paixões. É muito difícil ser imparcial. E por uma série de questões intrínsecas ao conservatism, o humor mais ácido, mais sem coração, é quase que monopólio dos liberals. Pelo menos é assim que eu interpreto a situação americana.

Já no Brasil o discurso público e a cultura são unos: o establishment da esquerda moderada domina tudo, com alguma permissão aqui e ali para a esquerda imoderada proferir suas utopias e suas revoltas indignadas, tidas como belos ideais mais inalcançáveis neste mundo decaído. Sendo assim, a revolta contra esse estado de coisas sempre será tido como direitismo, mesmo que não o seja. Ao mesmo tempo, o grosso da população existe em algum ponto intermediário entre o reacionarismo de taxista e de fundo religioso e o fisiologismo do homem natural, que é a quase ausência de valores ou princípios. Por isso é mais fácil encarnar o niilismo desvinculado de qualquer agenda.

Todo mundo aceita fazer humor com aquilo que não considera sagrado. Se algum tipo de humor só te dá raiva, ali está algo que você considera sagrado. Para um católico, o sagrado é antes de tudo algo superior ao homem, mas acaba se estendendo também ao homem, já que este é imagem de Deus. Assim, fazer piada dos vícios humanos é perfeitamente aceitável para um católico; já fazer piada das virtudes humanas, da natureza humana enquanto tal, é muito próximo de uma blasfêmia. Talvez para uma sensibilidade calvinista, enraizada na doutrina da depravação total do homem) a coisa seja diferente: pois daí a natureza humana é justamente o depravado, o sujo. Seja como for, ambos concordariam, por exemplo, que com Jesus Cristo não se brinca; e mesmo a piada mais benevolente e graciosa seria recebida com muita cautela e não mais do que um sorriso desconfortável. Uma piada pra valer seria rechaçada com ódio. Pois Cristo, para o cristão, é o que há de mais sagrado. Muita gente em nossa sociedade gosta de fingir que não considera nada sagrado; que somos mais liberados, mais easy-going, e portanto menos propensos a se escandalizar do que os beatos e carolas de nosso passado. Mas Rafinha Bastos o está a desmentir.

domingo, 9 de outubro de 2011

Horóscopo do dia

Para cada cigarro que você acende, eu acendo uma estrela, sabia? Depois eu as aspiro, profundamente, e dentro de mim toma forma uma nebulosa, uma nebulosa espessa e incrustada de constelações, signos zodiacais. Para algumas dessas estrelas, astrólogos e cientistas encontraram nome, outras são desconhecidas, outras, inomináveis (ao pronunciarem seu nome, o significado delas se dissipa no vazio e elas se tornam um buraco negro, engolindo tudo com o abismo de seu absurdo).

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Só hoje

Olha só, eram duas da tarde e eu estava atento com a movimentação da rua; eram duas da tarde, e eu não estava dormindo não. Estava acordado, de olho na rua, vendo o que acontecia. Lá pelas tantas, vi um carro estacionar do outro lado, um carro cinza, da cor do asfalto, como um bicho camuflado (um bicho?). Do carro, saíram duas mulheres, uma vesga, as duas de óculos escuros... Como sei que uma era vesga? Sabendo, ué. É o tipo da coisa que a gente logo vê, sente de longe. Uma mulher vesga é sempre uma mulher vesga, mesmo de óculos escuros. Pois então. Saíram duas mulheres de óculos escuros do carro, uma delas vesga, atravessaram a rua e tocaram a campainha de casa. Não sei se me viram espiando da janela, mas certamente a vesga, se me viu, fingiu que não — às vezes, depois do almoço, fico invisível. A mulher que não era vesga (era loura) tocou mais uma vez a campainha, a campainha aqui de casa, e eu, ali, espiando, escondido. “Não tem ninguém”, disse a loura, “Espera mais um pouco”, disse a vesga, “ainda sinto o cheiro dele”. Eram umas duas da tarde. Lembrei que tinha deixado a tv ligada lá embaixo e que elas poderiam escutar se fechassem bem os olhos e fizessem força assim. A tv ligada conversava com o silêncio do sofá vazio. Dessa vez, ao invés de tocar a campainha, uma das mulheres socou a porta, socou a porta e disse: “Abra, sabemos que você está aí, só viemos buscar o que é nosso!”, foi assim que ela disse assim, arranhando a porta. “Vão embora daqui!”, eu gritei daqui de cima, “Vão embora daqui e me deixem em paz!”, e elas se entreolharam, deram de ombros, combinaram que não me ouviam. “Vão embora daqui!”, eu gritei de novo, até que meu peito quase estourasse, e elas, nada — ficaram paradas, mastigando a brisa. “Abra; só queremos falar com você”, a vesga disse num tom sentimental, quase piedoso. Eu não vou abrir essa porta, pensei. Elas, se quiserem, que arrombem a porta; eu vou ficar aqui na cama, dormindo. Não que eu tivesse medo delas! Eu tinha sono, só isso, sono e um bocado de preguiça, afinal, tinha acabado de almoçar e costumo ficar com os nervos moles depois do almoço, os nervos moles escorrendo pelo corpo, me puxando para baixo, me pregando ao chão, onde eu me arrastava pesando uma tonelada, que é quanto pesam meus nervos do lado de fora do corpo. Então fechei os olhos e pensei: “Só hoje”.

sábado, 1 de outubro de 2011

Acepipes de Amor

Para entender este post, é essencial, é fundamental, que vocês leiam, ou melhor, sorvam e deleitem-se com este texto sobre as pequenas gentilezas do amor. Leiam mesmo, do início ao fim, sem pular nenhuma palavra. Aproveitem para dar uma passada de olho pelos comentários. Recomendo ainda que naveguem um pouco pelo resto do blog. Só então, quando estiverem 100% imbuídos desse espírito doce e delicado qual sorbet de mamão (a pedra de toque é ser capaz de dizer, como o autor, com toda a sinceridade: "Ontem à noite fui buscar água e a geladeira vazia me lembrou que hoje é dia de mercado. Desde pequeno adoro dia de mercado.[fim do post]"), aí sim voltem para cá; estarão aptos a compreender meu gesto.

Pois vejam, hoje, sábado de manhã, eu também levantei mais cedo que minha esposa, e tinha vontade de comer mamão. Digo, mamão papaia, o gostosinho, e não aquele grandão que se serve cortado em lanche de criança. Intuí que minha alma gêmea, ao acordar, também ia querer se deliciar com essa dádiva. Resolvi então preparar-lhe uma surpresa. Fui à cozinha a passos cuidadosos, na ponta dos pés, para que nenhum barulho a despertasse de seu descanso merecido depois de uma semana intensa de trabalho. Na geladeira havia duas metades de dois papaias diferentes, o que não é incomum em casa: às vezes eu corto um papaia novo sem checar se há uma metade mais velha guardada. Caberia a mim, portanto, surpreender minha esposinha com uma dessas duas. Eu poderia, é verdade, dar-lhe ambas, e era o que eu faria, até que pensei: "Mas se eu der tudo para ela, ela vai ficar triste, pois eu terei ficado sem, e ela fará questão que partilhemos juntos dessa alegria". Decidi que uma das metades tinha que ser minha.

Só então reparei a enorme disparidade entre elas.

A primeira era perfeita. A casca amarela na medida certa, imaculada; a carne vermelho claro, nem muito dura nem muito mole, e no meio sementinhas pretas reluzentes, saudáveis. Prometia a doçura acolhedora que só um bom papaia oferece. Inigualável.

A segunda estava em avançada podridão. A casca preta e carcomida, a carne mole, sem consistência, cheia de veios fibrosos; manchas escuras e até brancas poluíam a borda. Umas partes estavam ressecadas; outras, pastosas. Sementes esbranquiçadas boiavam na gosma; essa fruta claramente tinha apodrecido antes mesmo de amadurecer.

Com todo cuidado tirei as duas metades da geladeira e coloquei cada uma em um pratinho com uma colherzinha de prata do enxoval do casamento. A primeira dava água na boca e me fazia sonhar com um mundo mais doce. A segunda, se a olhasse fixamente, pequenas ânsias de vômito. Fiquei ali alguns segundos, fitando-as. O que fazer?

Não tive dúvidas: tasquei a colher na metade boa e a devorei! De papaia podre quero distância! Joguei a casca no lixo, não sem antes abrir espaço no fundo do saco e depois recobri-la com umas latinhas e uma caixa de leite velha, para não acontecer que minha mulher, ao jogar algo fora, visse a casca e concluísse que a melhor parte ficara pra mim.

Escondidas as evidências, voltei cuidadosamente para o quarto com o outro pratinho, e me posicionei ao lado daquele anjo a dormir pacificamente. Sem que ela acordasse, revolvi um pouco o papaia com a colher, soltando da casca aquela carne já pastosa e aquelas sementinhas subdesenvolvidas. Soltinho assim é que é bom.

Estiquei, então, o prato por cima da cabeça dela e o virei aos poucos, derramando a papa em seus lindos e longos cabelos louros enquanto espalhava tudo com a colher para que nenhum fio saísse ileso. Sabem aquele cheirinho meio acre do fundo do papaia? Estava bem forte; lembrava xurume.

Conforme eu mexia, o rosto angelical esboçou alguns movimentos. Saltei prontamente para o outro lado do quarto e fiquei do lado do armário, de um jeito que ela não me visse, espiando sorrateiramente; me senti um verdadeiro menino do primário no meio de uma travessura! Ainda de olhos fechados, meio-acordada, ela levou a mão à cabeça, mas ao passar os dedos pela minha surpresa levantou de sopetão. Enquanto corria as mãos pela gosma, sentiu o cheiro penetrar-lhe as narinas, e um fio de aguinha rosa escorreu-lhe pelo rosto. Do fundo das cordas vocais soltou um berro que me assustou. Mais gotas escorriam testa abaixo e ela viu um pouco do papaia grudado em seus dedos; o rosto e se contraiu numa feição nada atraente. "O QUE É ISSO??", berrou mais uma vez e desatou num choro solto. Não havia raiva, apenas o mais puro desconsolo, em sua voz. Ela se virava para os lados, olhava para o travesseiro, chegou até a puxar os cabelos. O total abandono daquele pranto, sem receio e sem vergonha, era em parte causado, tenho certeza, por ela não poder lavar o cabelo, pois ira ao cabelereiro na noite de sexta fazer um corte e um penteado especial, todo emperiquitado. É que hoje à noite teríamos o casamento da melhor amiga dela, no qual ela seria madrinha. Veio-lhe uma falta de ar, e ficou ali, um anjinho de cabeça suja soluçando no mais absoluto desamparo, e agora já uns pedacinhos do papaia caíam de seus cabelos na camisola e no edredom.

Vendo aquela cena patética, em que várias circunstâncias inesperadas tinham se encaixado para produzir uma tragédia singular, tentei me segurar ao máximo, mas não resisti: denunciei meu esconderijo. Existe jeito melhor de começar o fim-de-semana do que com uma longa e deliciosa gargalhada?
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