All children, except one, grow up. They soon know that they will grow up, and the way Wendy knew was this. One day when she was two years old she was playing in a garden, and she plucked another flower and ran with it to her mother. I suppose she must have looked rather delightful, for Mrs. Darling put her hand to her heart and cried, "Oh, why can't you remain like this for ever!" This was all that passed between them on the subject, but henceforth Wendy knew that she must grow up. You always know after you are two. Two is the beginning of the end.Dia desses, no mercado, batemos com uma senhorinha avó de aluno do Rafael que ao olhar minha filhinha soltou um espantado “Meu Deus! Vocês não têm juízo!”. Isso de ter filhos nos coloca em contato com muito falatório, todo mundo tem um palpite, uma história, um conselho... E eu quero dividir com vocês como ando atônita com o que tenho ouvido dizer por aí. O problema é sério, vale até um texto.
(Peter Pan)
Quando decidi ter filho (sim, eu decidi) eu não tinha casa própria, renda fixa, médico confiável, vinte cursos diferentes de como-ser-a-mãe-perfeita e nem 35 anos ou mais. Aliás, ainda não tenho; tinha, sim, o que precisava: um esposo, um teto, força e saúde para correr atrás do pão nosso de cada dia e um útero pronto para ser fecundado. A reação primeira de todos aqueles da geração dos meus pais foi “É loucura! É loucura. Você não tem casa própria, renda fixa, médico confiável. Não fez cursos, ainda nem tem mais de 30. É loucura!”. Eu respirei fundo e pensei “que bom que existe a loucura; caso contrário eu mesma não estaria aqui.” Mas as coisas não ficaram nisso aí. Visto que a “loucura” não acertava muito bem o alvo, surgiu uma nova acusação, a de “estar prejudicando a vida do bebê”. Porque se não se preenchem todos os requisitos para engravidar, o bebê pode passar necessidade, precisar de algum tratamento urgente, um leite especial, mil cuidados impossíveis que não poderiam ser sanados a não ser que eu tivesse um emprego público – se tivesse emprego público tudo bem, tinha segurança. Mas nem isso!
Nem isso.
Porém, o que me deixou realmente preocupada não foi o protesto da geração passada, e sim o deslumbre misturado com medo da geração presente. Aquele olhar de estranhamento que denunciava um “como assim um casal de vinte e cinco anos, nessas condições, pode ter filhos? Isso não era para ser impossível? Quer dizer... não é loucura?” Pois é, não era nem uma coisa nem outra; estávamos nós lá, contando com a força da realidade para mostrar que o nosso bebezinho era possível – e era até muito fofo.
Logo a coceira da possibilidade começou a incomodar, e meus companheiros de geração começaram a tentar achar alguma explicação, alguma alternativa, algum argumento que justificasse aquele medo que lhes fora implantado desde a primeira adolescência. Ouvi, principalmente de primos e parentes próximos, que filhos roubariam deles tempo, e que assim não poderiam aproveitar a vida, a juventude. Diziam que filhos davam muitas despesas e muito trabalho – um trabalho enorme, impossível. Mas o principal: ainda não tinham experiência. Sentiam-se jovens demais, imaturos demais para assumir a responsabilidade. Afinal, ter filhos é coisa para gente grande.
E o que é ser gente grande? É conseguir cumprir todos aqueles requisitos. Poucos de 25 anos se consideram adultos pra valer; são meninos ainda, pobres de riquezas e experiência, dependentes da opinião e aprovação dos pais e amigos, sem saber direito o que querem da vida. Sim, são pessoas de 25 anos, assim como eu, assim como todos dessa idade. O fato é que, ao se comprar o discurso da juventude sem responsabilidades, se leva junto um grande problema: a paralisia. Sem responsabilidades, sem transtornos, sem dificuldades, não existe evolução.
Não se adquire a experiência para ser pai a não ser que você seja pai. Não existe caminho de fuga nesse caso: o pai nasce junto com o filho. E se o filho for postergado até seus 35 anos, lá – e somente lá – você terá começado a ter a experiência necessária para ser pai. Até lá, o que terá sido feito da sua vida? Na maior parte dos casos (e conheço alguns, poderia até citar), não foi feito nada, nada de relevante. Ao tentar escapar das coisas difíceis, o jovem acaba caindo e recaindo num círculo vicioso, que o prende no estado mental dos vinte anos, ainda que já tenha seus trinta e cinco.
Mas não espanta que hoje a adolescência prolongada venha ganhando mais e mais adeptos. No fim das contas os filhos, por mais que se esforcem em sentido contrário, acabam por assimilar boa parte do que lhes foi ensinado durante a vida; e nós fomos criados para temer a responsabilidade, a incerteza, e a insegurança. Somos chamados de irresponsáveis sempre que nos colocamos em risco na busca de uma nova responsabilidade. Mas nada de grande pode ser feito – muito menos um filho – sem levar em conta esses três fatores.
Se erramos, talvez seja por acreditar que somos assim tão fracos e imaturos que não podemos nem mesmo fazer o que vem sendo feito desde que o mundo é mundo: gerar filhos tão logo casados. E casar, tão logo possível!
Minha Alice, com seis meses de vida, já me ensinou muito mais sobre a vida do que meus seis anos de faculdade e vida independente em São Paulo. Mas não só isso: ensinou-me também sobre mim mesma, sobre a natureza humana, sobre a caridade, a felicidade... E falando em felicidade, ela também me mostrou com clareza o que Frankl queria dizer ao repetir em quase todos os seus livros que aquele que, ao responder “Qual o sentido de sua vida?” com a tão batida máxima “Ser feliz!”, estava gravemente no caminho errado. Porque aquele que busca a felicidade jamais poderá realizar seu propósito, uma vez que a busca pela satisfação de si é inglória e frustrante. E a felicidade vem, e só pode vir, como consequência de alguma outra coisa. Frankl também diz que o sentido da sua vida deve ser algo que você, e somente você, pode realizar. E alguém duvida que só você poderá ser pai dos seus filhos?
Nossa cultura nos tem aterrorizado enchendo de monstros disformes aquilo que deveria ser uma das principais causas de felicidade e realização para um jovem adulto. A constituição de uma família coroada com filhos – para aqueles com vocação familiar – deve ser vista como a premissa para uma vida frutífera e madura, e não como consequência disso.
Não foi à toa que a primeira ordem dada por Deus ao homem foi exatamente essa: crescei e multiplicai-vos.