[Resenha publicada originalmente no Mídia Sem Máscara.]
A rigor, Poder Global e Religião Universal (Ecclesiae,
2012), do Monsenhor Juan Claudio Sanahuja, não traz informações novas
nem secretas, mas traz informações fundamentais expostas de forma
ordenada, o que lhes dá uma inteligibilidade que geralmente lhes falta,
ainda as reputando a personagens e iniciativas bastante concretas – com o
que dá nome aos bois. O leitor brasileiro que opina sobre política já
não tem desculpas para ignorar ou dar de ombros diante do projeto
totalitário de governo mundial que canta como sereia à elite do
ocidente: isso, porque tanto A verdadeira história do Clube Bilderberg (Planeta, 2006), do jornalista espanhol Daniel Estulin, como Corporação (Cultrix, 2008), do scholar
inglês Nicholas Hagger, estão publicados no Brasil – claro, são só uma
ponta do iceberg, mas pelo menos são uma ponta que abre caminho em nosso
mercado editorial. Caminho esse, enfim, que é o mesmo do livro de Mons.
Sanahuja, que ainda acrescenta uma peculiaridade aos estudos da
matéria: o enfoque da “espiritualidade” que há décadas vem sendo forjada
e promovida como caixa de ressonância na qual, para o cidadão comum,
fará sentido a destruição sistemática de tudo que de mais honrado temos.
Livros como False Dawn,
de Lee Penn, interessam-se mais pela “doutrina” (Helena Blavatsky,
Alice Bailey, Barbara Hubbard, Teilhard de Chardin etc.), se assim
podemos chamá-la, e pelos grandes promotores da religião universal que
se quer baixar como decreto. Já ao Mons. Sanahuja interessam os
estratagemas com os quais se baixam o decreto: o desenvolvimento de
novos “paradigmas éticos” e “paradigmas religiosos” em uma operação
multilateral – e cujo controle foge até mesmo aos grandes engenheiros
sociais – de imposição de definições sempre mutáveis de “direitos
humanos”, “desenvolvimento sustentável” e outras belas palavras que o
leitor bem conhece, e cuja fonte irradiadora próxima o autor localiza
nas grandes conferências internacionais da década de 1990, inspiradas no
Relatório Kissinger (1974). Mas vamos por partes.
Primeiro:
em que consiste o projeto de uma nova religião universal? Consiste na
tentativa de “dar uma resposta única e universal a todas as questões que
possam ser propostas pelos seres humanos, em qualquer situação em que
se encontrem e onde quer que estejam. Para tanto, é necessário, como é
lógico, colonizar a inteligência e o espírito de todos e de cada um dos
habitantes do planeta”, especificamente através de um “credo religioso”,
de todo oposto ao cristianismo (“a ética judaico-cristã não poderá ser
aplicada no futuro”, afirmou Hiroshi Nakajima, ex-diretor geral da OMS).
O leitor mais precavido poderá fazer um muxoxo ao tentar se lembrar de
quando viu, se viu, algum João Batista a pregar o novo Messias da ONU.
De fato, são raros os sacerdotes de um novo culto paramentados em praça
pública a anunciar seu credo. Mas existem muitos burocratas, ongueiros e
professores simpáticos a distribuir, como se fez em setembro do ano passado, em Recife, 50 mil exemplares da Carta da Terra (documento
oficial da ONU) em forma de cordel a crianças de escolas públicas. É um dos principais documentos da “espiritualidade ecologista” que
põe homem e besta no mesmo nível, ao estilo de um panteísmo verde
grosseiro à la Mikhail Gorbachev e sua Cruz Verde Internacional, cujos agentes defendem publicamente a substituição dos Dez Mandamentos pelo decálogo da Carta.
É
tortuoso o percurso até a elaboração de um documento como esse. Em
1991, aponta Mons. Sanahuja, uma das agendas de trabalho da UNESCO dava
conta da elaboração de uma “ética universal de vida sustentável”. De
forma muito clara ali era posta a pedra fundamental do discurso
ambiental alarmista que hoje conhecemos bem: “É necessário lembrar a
verdade indiscutível de que os recursos disponíveis e o espaço da Terra
são limitados” (UNESCO, Diez Problemas Prospectivos de Población, Documento de Trabajo, Caracas, Febrero 1991, pp. 6-9).
Vale a pena aqui citar mais extensamente Poder Global e Religião Universal:
“Nestes
documentos de trabalho, a nova ética aparece quase como um paradigma
messiânico: um ‘chamado a viver uma nova ética que terá que iluminar as
interrelações complexas entre os fatores econômicos, o meio-ambiente e a
população’. Seus preceitos, afirmam, deverão guiar a tomada de decisões
dos governos, já que estas ‘não deverão ser consideradas como medidas
sobre assuntos nacionais, mas sobre assuntos de interesse
internacional’, pois, por exemplo, o alto crescimento demográfico de um
país pobre cria necessariamente um fluxo migratório para países com
melhor nível de desenvolvimento, os quais não têm capacidade de acolher
novos imigrantes.”
Apontava-se,
no mesmo documento, a necessidade de frear o desenvolvimento industrial
em países do terceiro mundo (“o progresso industrial dos países
desenvolvidos não se estenderá aos Países do Terceiro Mundo”) com vistas
a preservar o meio ambiente; mas, de modo incompreensível, chama
atenção Mons. Sanahuja, “o documento acrescenta que a única causa de
degradação ambiental nesses países é o fator demográfico, e que é
intolerável que ‘os pobres, que serão a maioria no futuro, prejudiquem
os ecossistemas do mundo para conseguir se desenvolver a qualquer
preço’”.
O que ali se plantava depois se colheria nos Princípios para viver de forma sustentável
(Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA, 1991), em que
se lê que “deve-se alcançar o equilíbrio entre a capacidade de carga da
Terra, o volume da população e os estilos de vida de cada indivíduo”.
Poucos poderiam, à época da apresentação desses princípios, imaginar que
a massificação do aborto e do gayzismo seriam meios de salvar o
planeta... É que não se pode perder de vista o que Mons. Sanahuja chama
de “paradigma da reinterpretação dos direitos humanos”, assentado sobre a
idéia de que os direitos humanos são “evolutivos”. Por exemplo, a Convenção Internacional para a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher
(CEDAW, 1979) reivindicara programas de “planejamento familiar”.
Posteriormente o comitê de monitoramento dessa convenção “interpretaria”
tal reivindicação como referência ao estímulo à esterilização, à
contracepção e ao aborto, sem que nada disso constasse no texto
original. Mais absurdo é o caso do comitê de monitoramento do Tratado Internacional contra a Tortura, que, por uma hermenêutica jurídica feérica, interpretaria o impedimento ao aborto como um ato de tortura contra a mulher.
Notem que isso não se limita a discussões chiques em salões da ONU: em 2009, o Comitê contra a Tortura efetivamente aplicou tal interpretação ao julgar que a Nicarágua, ao proibir o aborto terapêutico, violava o tratado.
Aliás,
muitos desses documentos sequer necessitam ter vigência no direito
internacional para que “painéis intergovernamentais” se ponham a
trabalhar no que em curto prazo já será matéria universitária
respeitável e, em seguida, política de governo. Um exemplo são os
“Princípios de Yogyakarta”, que, embora não contem com o aval da
“comunidade internacional”, vão pouco e pouco divulgando os “direitos
humanos em perspectiva homossexual” através de estudos acadêmicos e
cumplicidade de autarquias governamentais. Como se vê, atira-se de todos
os lados, mas o alvo é um só: pois a destruição dos modelos correntes
de sociabilidade (casamento gay, etc.) e a completa desvalorização da
vida humana (aborto, etc.) são aríetes a abrir caminho para um novo
projeto civilizacional, cujo esteio popular é o bom-mocismo da devoção
ecológica à “Terra como Grande Mãe, Magna Mater, Inana e Pachamama”,
como disse Leonardo Boff – sim: o homem é ainda hoje muito influente –
na Assembléia Geral das Nações Unidas em 2009.
Os capítulos 5 e 6 de Poder Global e Religião Universal,
“A confusão dentro da Igreja” e “Notas para uma conduta cristã”,
endereçam-se especialmente ao leitor católico, delineando estratégias de
oposição ao presente estado de coisas. Curiosíssima é a resenha
apresentada, no capítulo quinto, de um livro pouco conhecido, o romance Os três diálogos e o relato do Anticristo,
escrito em 1900, do filósofo russo Vladimir Soloviev. Trata-se de uma
distopia em que o diabo, no fim dos tempos, apresenta-se como
“pacifista”, “ecologista” e “ecumenista”... O leitor há de julgar o que
vai ou não de profético aí.
O livro do Mons. Sanahuja se
encerra com dois apêndices: o artigo “Obama e Blair. O messianismo
reinterpretado”, do filósofo belga Michel Schooyans (que inclusive viveu
no Brasil), tratando do governo Obama no que diz respeito, por exemplo,
a políticas abortistas; e a conferência “A Terra e seu Caráter
Sagrado”, que a irmã canadense Donna Geernaert apresentou no Plenário da
União Internacional de Superioras Gerais (UISG, Roma, 2007), e a qual
ilustra bem o modo como pessoas de dentro da Igreja pervertem a verdade
de Cristo e a põem a serviço da adoração da “Mãe Terra” do novo culto
sem altar.
terça-feira, 29 de maio de 2012
domingo, 27 de maio de 2012
O Paradoxo do Isolamento
Postado por
L.M.
— A história das minhas omissões, toda a minha história,
cabe nestas poucas palavras: um insensato horror à mistura!
Assim fala José Maria, narrador
das Lições de Abismo de Gustavo
Corção, ao descobrir mais um pedaço de si mesmo que antes lhe escapava. José
Maria que, ao encontrar-se à beira da morte, se isola de tudo e todos com a
intenção de descobrir quem é e a que veio a esse mundo, para ao fim se dar conta
de que um de seus equívocos fundamentais foi ter passado toda a vida nessa outra
espécie de isolamento a que ele chama de “horror à mistura”.
Corção leva seu protagonista a
encarar o fato de que “a descoberta do eu se completa nos abismos da
subjetividade”, inapelavelmente; e isso pressupõe, em certo sentido, que o
sujeito se volte para si em detrimento do mundo. Mas é preciso notar o “em certo
sentido”: a descida aos abismos da subjetividade em nenhum ponto coincide com o
horror à mistura, que, dito de outro modo, consiste em horror ao próprio mundo,
como se este contradissesse o Eu.
Doutor Aquiles, interlocutor
dostoievskiano de José Maria no livro de Corção, explica: “Existe o genuíno,
existe a verdade, mas é preciso ir buscá-la na mistura, é preciso aceitar por algum tempo a confusão do joio e do
trigo.” (grifo meu) A passagem pelo mundo e pela mistura não é o fim do
percurso, mas é condição necessária ao fomento da subjetividade do homem. A
verdadeira (porquanto útil) introspecção só é possível após o sujeito já ter
aprendido a lição de humildade que o mundo tem a nos ensinar: o amor pelo
próximo como decorrência natural do amor por si mesmo.
É salutar, uma vez que faz parte
do processo de autolapidação do ser humano, chegar ao momento em que se deseja
desviar os olhos do mundo para cravá-los na própria consciência; é um
isolamento para o bem, e em geral temporário. Ao passo em que aquele outro tipo
de isolamento, o horror à mistura, não elabora um novo momento do ser, sendo mero
reflexo defensivo de egos muito apegados a si mesmos (isto é, vaidosos).
José Maria foi um desses durante
toda a vida, e confirma: “Essa é a minha triste dominante: uma exasperação do
senso de ridículo”, senso esse que nos faz ter verdadeiro nojo daquilo que só
nos parece alheio por nossa falta de autoconhecimento. O homem do horror à
mistura é aquele que, sem se dar ao trabalho de procurar muito, decide já ter
encontrado suas verdades e se senta sobre elas confortavelmente (às vezes,
basta-lhe a verdade do seu amor-próprio acima de todas as coisas). Sobre isso,
diz Doutor Aquiles: “O que envenena tudo é o contentamento mesquinho; é a
vaidade.” No que emenda José Maria, compreendendo: “E quer que lhe diga aonde
é, em que meio, em que grupo de homens é mais visível a vaidade? Eu lhe digo: é
nos grupos de homens virtuosos, bem intencionados, bem comportados, que se unem
para guardar a sã doutrina e os bons costumes.” E assim Corção desce a lenha
naqueles que deveriam ser seus companheiros de luta, estivessem eles
interessados em algo além de seus próprios umbigos: “Ah! e as assinaturas dos
jornais católicos com fotografias de ilustres prelados; e as conferências
paroquiais, em que se convencem os superconvencidos, em que se explica o horror
do comunismo aos super-horrorizados, ou se apontam os inconvenientes do
divórcio ao superindissolúveis casais!”
Doutor Aquiles reitera, e eu
posso vê-lo acentuar cada sílaba, como se sublinhasse a obviedade suplicante da
frase: “O mundo é um lugar de mistura.” Mesmo os que crêem sinceramente na
dureza dos pilares em que se apóiam, se se fecham para o mundo, recusam (é o
caso específico dos supercatólicos) os próprios pilares. Há algo de errado com
o cristianismo da mansidão, como há algo de errado com as crenças inabaláveis. Se o
cristianismo nos oferece qualquer coisa de inabalável, certamente não é uma simples
crença, mas algo mais fundo, mais
essencial, algo que se vai instalar no que somos e lá permanece subjacente à acidentalidade das coisas plausíveis que pode até ser que existam. O cristianismo é uma força ativa que nos revolve as entranhas; uma vez que se entre em contato real com sua mensagem, não creio possível posteriormente um retrocesso total, tampouco a indiferença, menos ainda a apaziguada mansidão.
Aquele que declara ter suas entranhas acalmadas porque conheceu Deus, ou mente sobre a
suposta calma ou não conheceu Deus.
Quando Corção põe na boca de seu
protagonista as palavras: “Também eu tenho vivido um prolongado solilóquio”, a
frase pode se referir tanto ao isolamento voluntário a que se submete o
personagem durante seus últimos meses de vida, quanto à totalidade da vida
deste personagem, o qual agora reconhece em sua passagem pelo mundo o erro dos
que se crêem autossuficientes. Ao contrário do que se pode pensar, nem o ermitão
que se isola no deserto em busca de si mesmo e de Deus nega o mundo; se ele
busca a solidão e o silêncio é porque já compreendeu plenamente o atributo
coletivo da existência de todo e qualquer homem, e ainda poderá voltar ao mundo
com as suas lições de deserto.
É preciso que uma pessoa
determine os limites de seu próprio ser sem negar o mundo. Isolar-se em si
mesmo, sem se isolar do mundo. Eis o paradoxo.
terça-feira, 15 de maio de 2012
Elogio do Silêncio
Postado por
L.M.
Os meus bens já não estavam fora, nem eram
procurados sob este sol pelos olhos da carne. Aqueles que querem gozar fora de
si mesmos facilmente dissipam-se e derramam-se naquelas coisas aparentes e
temporais, lambendo com o pensamento faminto as imagens de tais objetos. Oh! se
eles se debilitassem com a fome e dissessem: “Quem nos mostrará o Bem?”
Santo Agostinho, Confissões
Um dos mais famosos aforismos de
William Blake é aquele que diz: The road
of excess leads to the palace of wisdom. Contemporâneo da Revolução Francesa
e seu irmão ideológico, Blake mantém com o espírito do nosso século vinte-e-um
a mais natural afinidade: para ambos o homem é um poço sem fundo que, tendo em
seu centro uma ausência, tão menos infeliz será quanto mais tomar do fluxo
mundano para dentro de sua goela imensurável; é, afinal de contas, um ser que não tem nada a perder, aquele a quem o
acaso jogou no palco da vida e, sem finalidade ou vigilantes, só tem contas a
prestar com seu aparelho sensório.
Deixando de lado a questão da
filiação ambígua ou cambiante do poeta William Blake a essas ideias,
assinalemos simplesmente que em tempos atuais essa é a interpretação que mais
apelo tem junto ao populacho (o qual muitas vezes coincide com nossa “classe
letrada”). Vivemos em tempos de idolatria do excesso enquanto signo de vida em movimento, tempos em que a vida
interior ou contemplativa é suplantada pelo mergulho passivo no mundo dos
sentidos.
Isto é válido sobretudo para a
cultura das grandes cidades. E aqui entramos no tema deste texto propriamente
dito: as grandes cidades, em geral; a cidade de São Paulo, especificamente. Falo
de São Paulo porque é a única megalópole que conheço de perto, mas é bastante
provável que muito do que se verifica a seu respeito valha também para os
outros grandes centros urbanos do mundo, pelo menos quanto aos tipos sociais
gerados por eles ou, dizendo de outro modo, ao efeito que a cultura da megalópole
tem sobre o humano.
São Paulo é uma cidade totalmente
voltada às exterioridades. É um lugar cuja cultura se resume a uma palavra:
dispersão. Inclusive o fascínio que ela exerce sobre tantas pessoas, residentes
ou visitantes, é comumente expresso por alguma variante da ideia de que São
Paulo é um lugar de “tudo ao mesmo tempo”; aqui todas as culturas se encontram,
todas as raças e classes sociais convivem, pode-se almoçar por 250 ou 2,50
reais. “São Paulo é a metrópole das oportunidades”, dizem. Já eu digo que São
Paulo é o palácio do excesso, onde mais facilmente do que em qualquer outro
lugar murcham as sementes da sabedoria.
É preciso, de fato, muita
fortaleza interior para não se deixar corromper por essa cidade. Ela tem
incontáveis facetas, por isso vou falar apenas daquela que conheço melhor,
porque julgo que por trás de todas as suas máscaras existe o mesmo rosto
ressequido. Eu convivo, desde que moro aqui, há seis anos e alguns meses, com
uma das dimensões de que São Paulo mais se orgulha das tantas que tem: a de
metrópole cultural. E afirmo que não preciso mais conhecer lugar nenhum para
saber que encontrei aqui o arquétipo do culturette
inculto – aquele que, vomitando por onde passa seus conhecimentos em alta cultura, se lhe trancarem num
quarto vazio com uma obra de arte, será incapaz de encontrá-la (e, por outro
lado, se adentrar um chiqueiro com a informação de que ali se encontram as
últimas tendências em arte contemporânea, medirá os porcos, beberá a lama e
tomará notas sobre a experiência). É como se o excesso de informação – o
excesso de formas tão pretensiosas quanto esvaziadas de arte – esterilizasse a
sensibilidade daqueles que vão pouco a pouco aprendendo a ignorar qualquer
possível relação entre (parafraseando o poeta) a vida apenas, sem abstração, e
o conteúdo de obras artísticas, chegando ao ponto de estas nem precisarem mais
ter um conteúdo intelectualmente apreensível, bastando excitarem os sentidos. Esse tipo de expressão artística irracional
é como uma extensão lógica das estruturas da cidade de São Paulo, a qual tem em
sua anti-arquitetura o símbolo perfeito de sua cultura (disforme, assimétrica,
sem comunicação entre suas múltiplas partes, egocêntrica). E no olho desse furacão está o tipo humano que incorpora aquele paradoxo, que consiste em as pessoas mais esterilizadas ou incultas serem justamente as que mais buscam (ou ao
menos aparentam) se cultivar.
Para entender melhor esse interessante
fenômeno psicológico, falemos de sua versão ampliada e massificada, o evento em
que o mencionado paradoxo ganha corpo em uma terrível multidão expressando em
uníssono a relação problemática de São Paulo com o objeto “cultura”. Refiro-me
ao evento Virada Cultural.
Aquilo que teoricamente se define
como “eventos culturais acontecendo durante 24h por toda a cidade de São Paulo”
tem pelo menos duas dimensões, ambas lamentáveis. A primeira e mais evidente
para quem, curioso e desavisado, resolve ir ver do que se trata é a que
chamarei de dispersiva: sob o pano de fundo dos “eventos culturais”, a multidão
se embriaga, se droga e se dissipa moralmente ao longo de 24h durante as quais tudo é permitido. Eu já estive lá,
leitor, acredite: as ruas da cidade, especialmente as do Centro, viram
verdadeiras terras de ninguém. Confesso que, circulando pelo meio da Virada
Cultural, cheguei inclusive a experimentar certo prazer, de fundo meio
antropológico, meio estético; era como estar diante da materialização de um
grotesco antes só acessível através de livros e filmes. Os brasileiros, que não
temos guerras nem catástrofes naturais em nossa memória coletiva, carecemos de
certo tipo de experiência do trágico capaz de nos mostrar a nós mesmos
cruamente. A Virada Cultural de certo modo oferece isso: quem se propuser
enfrentá-la terá diante de si um quadro horrendo, dantesco, que deve ser visto
na mesma medida em que é preciso um homem examinar sua própria consciência de
tempos em tempos e encarar a sujeira presente ali.
Por outro lado, há uma segunda
dimensão concomitante à da mera dispersão sensorial e que difere desta não tanto
por seus objetivos finais, mas sobretudo pelos meios que utiliza; trata-se de mera continuação adensada daquilo
que constitui a relação normal do paulistano com arte e cultura: pessoas
correndo de um lado para o outro, enfrentando filas intermináveis, se
acotovelando e competindo para ver quem atende a mais eventos. São uma variação
da figura do turista que, visitando ruínas do Velho Mundo, passa pelos marcos
históricos segundo o critério de já haver ou não tirado fotografias ali; uma
vez que as tirou, corre para entrar na fila do próximo local/monumento e assim
por diante. Aqueles paulistanos que não consideram a Virada Cultural como mero
pretexto para as mais diversas modalidades de dissipação sensória, isto é, que
colocam os eventos culturais em primeiro plano, já não praticam a dispersão por
se imiscuírem sexualmente com o primeiro bêbado ao lado ou encherem de química
seu cérebro a ponto de já não sentirem coisa alguma (não seria isso, no fim, o
que buscavam?); eles anestesiam, sim, seus sentidos, mas buscam fazê-lo já não
com álcool e drogas e sim por meio da famigerada arte.
O que acontece aqui é o mesmo que
faz pessoas lerem bombas morais como Dostoiévski e saírem intactas. A obra de
arte bate na consciência da pessoa sem conseguir penetrá-la, limitando-se a causar certa excitação sem forma definida. Por um lado há aí a
simples incapacidade de entender a boa arte, complexa por necessidade de sua
essência, mas não é só isso; não se trata apenas de um problema intelectual, de
carência em educação escolar; há no fundo disso um problema moral, de caráter –
quando um ser humano desconhece a si e a sua situação no mundo ao ponto de nem
saber que perguntas fazer, é natural que, se um artista lhe oferece respostas
cifradas simbolicamente, esteja o homem confuso desde a base inapto a acompanhá-lo. Não tem
jeito. Então as pessoas ficam patinando sobre a superfície de obras de arte,
sem qualquer critério ou com critérios risíveis de apreciação, até que já não
se diferenciam as boas obras daquelas produzidas pela pressa e ignorância da
cultura pop-urbana. É tentativa de expressão
artística, tá valendo – essa é a ideia da Virada Cultural paulistana e o
que faz a cabeça de seus frequentadores mais
cultos, que julgam pensar sobre o assunto.
Eu, indivíduo, Lorena Miranda,
não sou melhor que ninguém, mas já não posso lutar contra os fatos; se tenho
qualquer respeito por minha faculdade racional, afirmarei que o certo é o
certo, o errado é o errado, tal objeto é arte e tal outro não é, quando essas
verdades se me impuserem. Eu já estive lá.
Como diria Sylvia Plath, I know the
bottom. E lá está tudo errado.
Eles se movimentam em círculos viciosos e tudo se estrutura diabolicamente para
gerar sofrimento, para aniquilar a noção de pessoa, para minar toda e qualquer
autoestima. Essa máquina mortífera opera a todo vapor em São Paulo com sua
cultura da dispersão. As pessoas são jogadas na noite dessa cidade e amanhecem
só o pó. Muitas, acostumadas a ser pó, nem se dão conta de que existem outras
alternativas e pensam: viver é assim mesmo, é ter a vista turva contínua e
nauseantemente e de vez em quando receber um baque do chão.
Eu já andei demais por São Paulo
olhando a cidade pela janela do ônibus, ouvindo música e vendo tudo passar; já
me encantei e ainda me encanto com seus meandros de concreto, seus grafites,
seus mendigos pitorescos, seus pombos como sentinelas egípcios, seus jovens
fantasiados de mendigos pitorescos de luxo, o luxo de nunca ver uma face
repetida na multidão. Mas tudo isso só alimenta temporariamente, como assistir
a um filme; tudo isso não passa de exterioridade,
de luzinhas piscando para preencher nosso campo de visão. É barulho e mais
barulho e sentido nenhum.
Pela minha experiência pessoal,
São Paulo resulta nisso: cansaço, distância, confusão mental. Morar nessa
cidade é como se debater dentro de uma armadilha: você sai de manhã bem
disposto e ao fim do dia ela lhe terá sugado todas as forças. A lenda da
convivência harmônica de classes, aliás, é outra de suas mentiras. Os bairros
aqui são pequenas vilas onde, para se ser estrangeiro, basta vir de uma linha
diferente do metrô. Nada é mais fácil para São Paulo do que separar seus ricos
de seus pobres, seus paulistanos de seus nordestinos. Nada é mais fácil para
São Paulo do que dificultar o contato entre as pessoas, e tanto, que seus
habitantes acostumados a tal lógica da distância logo desenvolvem esse mesmo
traço em sua psicologia.
Não existe amor em SP? Mas não há lugar sobre a Terra privado de amor. Há, sim, lugares onde
estabelecer e expressar laços afetivos é mais difícil, onde ter vida interior e
silêncio para contemplar a realidade do espírito é mais difícil. São Paulo é um
desses lugares. São Paulo é um desses lugares onde vive muito bem quem só
precisa de uma desculpa para se esquivar da própria consciência.
domingo, 13 de maio de 2012
Carta aos brasileiros
Postado por
Rafael Falcón
Por Day Teixeira
Está impressa na memória de todos a imagem de soldados marchando para guerras, carregando bandeiras, embarcando em navios e deixando para trás mulheres e filhos chorosos. Ainda que o povo brasileiro não tenha passado por nenhuma guerra recente, a imagem do pai arriscando a própria vida para defender e salvar sua mulher e filhos é mais que simbólica – parece fazer parte da ordem natural das coisas. Porém, em tempos de hoje, a ordem natural parece ter saído de moda.
Assistimos todos com pacífica indiferença ao Superior Tribunal Federal aprovar com folga a legalização do aborto em caso de anencefalia. Deixando de lado a discussão absurda sobre se o feto sem cérebro é ou não um ser humano (seguindo o conselho do Filósofo: discutamos sobre tudo, mas não sobre se o céu é azul) vou ao que importa: as conseqüências quase inevitáveis dessa decisão.
O fato de não ter havido nenhuma manifestação mais expressiva do que frases em twitters e facebooks mostra que, sim, a população brasileira já está amaciada quando o assunto é liberação do aborto. Está se tornando feio ser contra a legalização, remexer nesse assunto que já não é tabu em países desenvolvidos - como anuncia a mídia com um suspiro de satisfação. Ninguém quer dar a cara a tapa para defender crianças anencéfalas que viverão dias insuficientes para agradecer pelo esforço. O problema é que as coisas não irão parar por aí.
Basta ter um pingo de noção sócio-política (e confesso não ter mais que um pingo) para notar o rumo que as coisas vão tomando. A proposta de legalização do aborto em casos de anencefalia foi feita pela CNTS em 2004, mas só agora a votação foi realizada – por quê?
Depois de eleições em que o tema foi parar na berlinda e a população recebeu como promessa de campanha que o aborto não seria legalizado no Brasil, vimos, faz poucos meses, surgir um novo nome para a tal “Secretaria de Políticas para Mulheres”: Eleonora Menicucci. A nova ministra, além de ter sido “colega de cadeia da presidenta”, é como que PhD em políticas e técnicas abortivas. A feminista que foi colocada para assegurar o bem-estar das mulheres brasileiras assegurou-se de passar a vida toda se dedicando à legalização e prática do aborto – em toda e qualquer circunstância. Ora, objetará o bom senso, mas foi legalização do aborto de anencéfalos e não do aborto “aborto mesmo”. Ah, é?
Lembro-me de quando das eleições um rapaz foi parar na cadeia por distribuir panfletos anti-abortistas, e teve aquela manifestação na Sé, e discursos inflamados na internet de pastores e padres e até o Papa se manifestou... E então eu pensei: Ufa, seguraremos essa peteca por bons anos ainda; afinal, não será fácil aprovar na cara dura uma medida que é abominada por quase noventa por cento da população. Como eu fui ingênua. Boba de pensar que esses mestres da manipulação social tentariam fazer as coisas assim, como fazemos todos. Não, eles são muito mais espertos.
Quem seria firme o suficiente em sua convicção anti-abortista para recusar à mulher, grávida de um filho com os dias contados, o direito de antecipar o inevitável e evitar todos os possíveis traumas provenientes da extensão desse sofrimento? Quem seria contra o aborto de anencéfalos num país que já se acostumou com a ideia do aborto-por-estupro? Para além do absurdo de condenar à pena capital um filho inocente pelo crime de seu pai, o aborto-por-estupro abre como prerrogativa a preservação da “saúde psicológica da mãe”, que nesse caso (e agora no de anencefalia) vale mais que a vida do filho. Muito poucos, na verdade, se alarmariam com mais essa concessão, e muitos aceitariam a medida, é verdade que meio a contragosto, tentando com isso aliviar aquele peso na consciência de não poder ser assim tão radical. E é exatamente aí que a malícia faz a festa.
Quando o STJ aprovou (sabe-se lá como, considerando que eles são o judiciário) o aborto de anencéfalos alegando a defesa da saúde mental da gestante, abriu-se a porteira para todo tipo de absurdo jurídico. Será questão de tempo até que várias doenças congênitas, malformações e síndromes dos mais diversos tipos entrem no balaio. O argumento geral só precisará de uma retorcida aqui e ali para valer para inúmeros casos (o bebê cego, o bebê aleijado, o bebê autista, o bebê com pé torto) todos eles causarão futuros traumas psicológicos e deverão ser, com todo o suporte do Estado de direito, picados e sugados para fora dos úteros de suas mães – que, coitadas, graças a isso poderão seguir curtindo sua vida sem dor.
A aprovação do aborto por motivo de deficiência do feto cria um nó moral: a quem é permitido julgar a validade de uma vida? Ao Estado? Às mulheres? Agora que se pode matar um filho “porque já ia morrer mesmo”, quanto tempo restará até que se possa matá-lo “porque o mundo é cruel”, “porque ele seria pobre”, “porque não quero minha barriga flácida”, “porque tenho a minha liberdade”? Ora, existe um grande perigo em se colocar valores acima da vida – principalmente quando se trata da vida dos outros (sim, porque os fetos são outros). E ao ceder ao aborto por anencefalia, os brasileiros estão por tabela aceitando a descriminalização do “aborto mesmo”. Sim, assim desse jeito, sem nem perceber. Estão aceitando um inevitável futuro sangrento para nossas crianças só porque não querem ser assim tão radicais. Percebam: é questão de tempo.
Que homens crescidos e magistrados façam isso contra seus pequenos compatriotas já é alarmante, mas que mulheres (mulheres!) aceitem isso como um direito e ainda se sintam lisonjeadas por saberem que agora os filhos de sua nação poderão ser mortos, para mim, é absolutamente inexplicável. Homens e mulheres favoráveis ao aborto para mim são simplesmente loucos. E por isso aqui não falo com eles, mas com aqueles que tendo a cabeça no lugar não têm, no entanto, força suficiente para falar mil vezes contra o aborto em toda e qualquer circunstância. Tomemos cuidado, pois estamos lidando com cobras astuciosíssimas que se valerão de todos os recursos para atingirem seus objetivos.
Por isso cabe a nós – seres humanos já nascidos e crescidos, tão orgulhosos de nossa iluminada razão – usarmos de nossa condição para garantirmos a esses indefesos pequeninos o direito – dado a eles pela própria natureza – de chegarem um dia a ver a luz desse mundo.
“Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte; nem se deve acender uma candeia e colocá-la debaixo do alqueire, mas no velador, e assim iluminar a todos que estão na casa” (Sermão da Montanha)Numa época de homens enfraquecidos e covardes, que esperança restará se nem nós, mulheres, sairmos em defesa de nossos filhos?
Está impressa na memória de todos a imagem de soldados marchando para guerras, carregando bandeiras, embarcando em navios e deixando para trás mulheres e filhos chorosos. Ainda que o povo brasileiro não tenha passado por nenhuma guerra recente, a imagem do pai arriscando a própria vida para defender e salvar sua mulher e filhos é mais que simbólica – parece fazer parte da ordem natural das coisas. Porém, em tempos de hoje, a ordem natural parece ter saído de moda.
Assistimos todos com pacífica indiferença ao Superior Tribunal Federal aprovar com folga a legalização do aborto em caso de anencefalia. Deixando de lado a discussão absurda sobre se o feto sem cérebro é ou não um ser humano (seguindo o conselho do Filósofo: discutamos sobre tudo, mas não sobre se o céu é azul) vou ao que importa: as conseqüências quase inevitáveis dessa decisão.
O fato de não ter havido nenhuma manifestação mais expressiva do que frases em twitters e facebooks mostra que, sim, a população brasileira já está amaciada quando o assunto é liberação do aborto. Está se tornando feio ser contra a legalização, remexer nesse assunto que já não é tabu em países desenvolvidos - como anuncia a mídia com um suspiro de satisfação. Ninguém quer dar a cara a tapa para defender crianças anencéfalas que viverão dias insuficientes para agradecer pelo esforço. O problema é que as coisas não irão parar por aí.
Basta ter um pingo de noção sócio-política (e confesso não ter mais que um pingo) para notar o rumo que as coisas vão tomando. A proposta de legalização do aborto em casos de anencefalia foi feita pela CNTS em 2004, mas só agora a votação foi realizada – por quê?
Depois de eleições em que o tema foi parar na berlinda e a população recebeu como promessa de campanha que o aborto não seria legalizado no Brasil, vimos, faz poucos meses, surgir um novo nome para a tal “Secretaria de Políticas para Mulheres”: Eleonora Menicucci. A nova ministra, além de ter sido “colega de cadeia da presidenta”, é como que PhD em políticas e técnicas abortivas. A feminista que foi colocada para assegurar o bem-estar das mulheres brasileiras assegurou-se de passar a vida toda se dedicando à legalização e prática do aborto – em toda e qualquer circunstância. Ora, objetará o bom senso, mas foi legalização do aborto de anencéfalos e não do aborto “aborto mesmo”. Ah, é?
Lembro-me de quando das eleições um rapaz foi parar na cadeia por distribuir panfletos anti-abortistas, e teve aquela manifestação na Sé, e discursos inflamados na internet de pastores e padres e até o Papa se manifestou... E então eu pensei: Ufa, seguraremos essa peteca por bons anos ainda; afinal, não será fácil aprovar na cara dura uma medida que é abominada por quase noventa por cento da população. Como eu fui ingênua. Boba de pensar que esses mestres da manipulação social tentariam fazer as coisas assim, como fazemos todos. Não, eles são muito mais espertos.
Quem seria firme o suficiente em sua convicção anti-abortista para recusar à mulher, grávida de um filho com os dias contados, o direito de antecipar o inevitável e evitar todos os possíveis traumas provenientes da extensão desse sofrimento? Quem seria contra o aborto de anencéfalos num país que já se acostumou com a ideia do aborto-por-estupro? Para além do absurdo de condenar à pena capital um filho inocente pelo crime de seu pai, o aborto-por-estupro abre como prerrogativa a preservação da “saúde psicológica da mãe”, que nesse caso (e agora no de anencefalia) vale mais que a vida do filho. Muito poucos, na verdade, se alarmariam com mais essa concessão, e muitos aceitariam a medida, é verdade que meio a contragosto, tentando com isso aliviar aquele peso na consciência de não poder ser assim tão radical. E é exatamente aí que a malícia faz a festa.
Quando o STJ aprovou (sabe-se lá como, considerando que eles são o judiciário) o aborto de anencéfalos alegando a defesa da saúde mental da gestante, abriu-se a porteira para todo tipo de absurdo jurídico. Será questão de tempo até que várias doenças congênitas, malformações e síndromes dos mais diversos tipos entrem no balaio. O argumento geral só precisará de uma retorcida aqui e ali para valer para inúmeros casos (o bebê cego, o bebê aleijado, o bebê autista, o bebê com pé torto) todos eles causarão futuros traumas psicológicos e deverão ser, com todo o suporte do Estado de direito, picados e sugados para fora dos úteros de suas mães – que, coitadas, graças a isso poderão seguir curtindo sua vida sem dor.
A aprovação do aborto por motivo de deficiência do feto cria um nó moral: a quem é permitido julgar a validade de uma vida? Ao Estado? Às mulheres? Agora que se pode matar um filho “porque já ia morrer mesmo”, quanto tempo restará até que se possa matá-lo “porque o mundo é cruel”, “porque ele seria pobre”, “porque não quero minha barriga flácida”, “porque tenho a minha liberdade”? Ora, existe um grande perigo em se colocar valores acima da vida – principalmente quando se trata da vida dos outros (sim, porque os fetos são outros). E ao ceder ao aborto por anencefalia, os brasileiros estão por tabela aceitando a descriminalização do “aborto mesmo”. Sim, assim desse jeito, sem nem perceber. Estão aceitando um inevitável futuro sangrento para nossas crianças só porque não querem ser assim tão radicais. Percebam: é questão de tempo.
Que homens crescidos e magistrados façam isso contra seus pequenos compatriotas já é alarmante, mas que mulheres (mulheres!) aceitem isso como um direito e ainda se sintam lisonjeadas por saberem que agora os filhos de sua nação poderão ser mortos, para mim, é absolutamente inexplicável. Homens e mulheres favoráveis ao aborto para mim são simplesmente loucos. E por isso aqui não falo com eles, mas com aqueles que tendo a cabeça no lugar não têm, no entanto, força suficiente para falar mil vezes contra o aborto em toda e qualquer circunstância. Tomemos cuidado, pois estamos lidando com cobras astuciosíssimas que se valerão de todos os recursos para atingirem seus objetivos.
Por isso cabe a nós – seres humanos já nascidos e crescidos, tão orgulhosos de nossa iluminada razão – usarmos de nossa condição para garantirmos a esses indefesos pequeninos o direito – dado a eles pela própria natureza – de chegarem um dia a ver a luz desse mundo.
sábado, 5 de maio de 2012
Um test drive intelectual
Postado por
Juliano Torres
O vídeo abaixo é um documentário que tenta estabelecer uma
teoria sobre o todo, usando como base teorias recentes da neurociência,
relatividade geral, mecânica quântica e muitas outras. O tom do documentário
não é nada parecido com coisas como "O Segredo" ou
"Zeitgeist", apesar da estética e do título às vezes lembrar esse
tipo de documentário que não tem nada de sério.
Ele fica um pouco menos sério porque o criador da
"Teoria do Todo" é conhecido como Athene, que é autointitulado o
maior jogador de jogos online de todos os tempos; e pelo que pesquisei na
internet, seus recordes são realmente dignos do título. Além disso, ele não tem
formação em nenhum dos campos que ele aborda e é extremamente novo. Em geral
isso costuma diminuir a credibilidade, mas é bem possível que alguém aprenda e
consiga criar uma teoria revolucionária sem precisar entrar na Academia; não
criei nenhuma teoria revolucionária na economia e política, mas entendo
relativamente bem do assunto sem ter aprendido isso no meio acadêmico. No
mínimo o sujeito merece o crédito pela criatividade.
Falando mais diretamente sobre os temas tratados, na parte
que está legendada no momento - que é a parte completa que fala sobre
neurociência - são abordadas ideias de porque em alguns momentos as pessoas não
conseguem absorver alguma ideia e em outros consegue com muita facilidade, o
que muda no mundo desde o descobrimento dos neurônios espelho, pensamentos
sobre sistema de crenças, o que nós somos, uma nova fundação da moralidade e
até porque matar outra pessoa pode ser matar uma parte de nós mesmos. Enfim,
existem coisas comprovadas no meio do documentário, mas muito do que é
apresentado é a teoria original do Athene; então críticas e pensamentos sobre
serão essenciais nos comentários, principalmente porque não existe nenhum
artigo comentando ou refutando o documentário na internet.
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